A modernidade não tem charme, pois não?
Nos últimos tempos temos assistido a um regresso ao passado. Expressões como vintage, old-school ou velha guarda estão na ordem do dia. Afinal de contas, parece que há coisas que a modernidade não nos consegue oferecer.
Falta estilo, falta charme à modernidade. E não há nada que a modernidade possa fazer quanto a isso. Seja nos automóveis, na competição ou… num simples cigarro. Vamos pegar neste último exemplo, ok?
“Dá-me a sensação que há 30 anos atrás o mundo era governado por irresponsáveis”
Aposto convosco um almoço – eu escolho o local, não vá o diabo tecê-las… – em como nunca vamos ver uma cena de Hollywood a entrar para história do cinema com um cigarro electrónico pelo meio. O cigarro electrónico não tem o mesmo estilo, o mesmo charme, a mesma mística dos cigarros convencionais. Dizem que o cigarro electrónico até é melhor que os cigarros ditos «normais». Mas não é a mesma coisa. Alias, é uma negação absoluta de estilo – bem, mas isto dito por um não fumador vale o que vale.
Podemos considerar o cigarro electrónico as «sandálias de couro com meias brancas» da industria tabaqueira. Podem até ser uma combinação interessante sob vários pontos de vista: devem ser confortáveis, práticas e muito cómodas. Mas preferia andar o dia inteiro com pedras nos sapatos do que com «sandálias de couro e meias brancas».
Com os automóveis é a mesma coisa. Há sensações que só um clássico consegue transmitir. E nem é porque tenham alguma coisa a mais que os automóveis modernos, grande parte das vezes até é porque têm menos. Menos electrónica, menos complexidade, menos segurança. E com já disse anteriormente, às vezes menos é mais.
E quanto mais tempo passar, maior será a nossa propensão para regressar ao old-school. Até porque em boa verdade, nem todas as visões que temos sobre o futuro são muito animadoras. As velhas máquinas são um porto seguro.
No desporto motorizado o cenário é o mesmo. Olhamos para trás e temos saudades de tudo aquilo. A humanidade era irresponsável, simplesmente irresponsável. O publico, os pilotos, a Federação Internacional de Automobilismo. Dá-me a sensação que há 30 anos atrás o mundo era governado por irresponsáveis. No Mundial de Fórmula 1? Monolugares com mais de 1200cv. Mundial de Ralis? Automóveis com mais de 600cv. Público? Todo alinhado, tão perto dos carros que quase arrancava a roupa.
Os pilotos na sua maioria, não eram verdadeiros atletas. Eram homens, como nós, mas com mais jeito para o volante. Com os mesmos hábitos, um cigarro aqui, uma cerveja acolá. Saiam à noite e divertiam-se a valer – que o diga o James Hunt. Com a diferença que ao contrário de nós, sabiam verdadeiramente domar um automóvel. Nós vamos tentando… com mais ou menos estilo, mas vamos tentando.
Uma coisa é certa, a modernidade não tem nem metade(!) do charme do «antigamente».
In: Razão Automóvel